domingo, setembro 25, 2005

Impossíveis Músicas


Da Série parcerias que poderiam ter rolado:

ÂNGELA RÔ RÔ & IVAN LINS

Você me teve
Em Algum Leblon

Amantes bêbados
Fora do tom

Punidos e Nus
De tanto amor

Seu cheiro tem poesia
Deixa o suor dar em flor


Te amar, eu sei,
É o pouco que eu
Vejo


às vezes, quem sabe,
Somos um dia
Dentro de um beijo

sexta-feira, setembro 23, 2005

IMPOSSÍVEIS MÚSICAS


Da série parcerias que infelizmente não se transformaram em música:

João Bosco/Aldir Blanc e Toquinho

Uma mistura de amorzinho
e patuá

Duas Áfricas
em um mesmo saravá

A desilusão feita
De cachaça-maçã

Um suicídio contido
No Maracanã

Um violão
Tropeçando nas ruas

Mais sete cordas
Mais cinco
E mais duas

E um samba
Falando com o outro
Assim

Como quem sabe mais
Mas não conta
Pra mim

quarta-feira, setembro 21, 2005

Diálogos de Rivaldo

(Na Portaria). Alguém grita.

- SEU RIVALDO!!!
- Diz aí quem me chama.
- Seu Rivaldo, meu irmão entalou na lixeira.
- Ou ele merece estar ali ou vocês não merecem morar no prédio.
- Por quê?
- Ou ele é imbecil o suficiente pra fazer qualquer coisa num lugar tão sujo e inumano ou vocês estão com falta de comida em casa, o que significa pobreza e eu não suporto gente pobre e burra.
- Meu Deus, Seu Rivaldo. É meu irmãozinho...
- Sabe que eu não posso sair da portaria à toa. Não posso fazer nada. Já faço nada aqui.
- Nem um minutinho? Ele deve estar morrendo!
- Minha filha, entenda uma coisa: eu sou porteiro, não sou bombeiro.
- Não tem ninguém que possa ajudá-lo aqui! O que eu posso fazer? Meu Deus, estou desesperada!

(Com cara de pensativo)

- Vamos lá.

(Chegando lá molha as pernas do garoto com álcool e acende um fósforo)

- Meu Deus!
- Isso que é desespero, sua filha da puta!

(PAUSA)

- Odeio gente burra!

sexta-feira, setembro 16, 2005

PÉROLA NEGRA


As ladeiras, naturalmente, formam um labirinto. São descidas, subidas, desvios na direção oposta à caminhada, casas aleatórias que se transformam em sinalização, barreira ou referências. Acidentes da construção humana. O caminho, às 05 horas, ainda sofre com a escuridão e com a desconfiança dos traficantes da vigília, sempre mais atentos ao amanhecer, hora onde a emboscada policial se agiganta no descuido das armas de quem não precisa engatilhá-las e na fraca mas oportuna iluminação do sol. Nada que intimide Dona Olga. Participou da construção de alguns becos, namorou em outros, ajudou a criar os meninos com fuzis de verdade. Lá foi e é feliz.

- Bom Dia, Dona Olga.
- A benção, Tia. Bom trabalho.
- Deus te abençoe, meu filho.

Dona Olga é uma imigrante do norte. Junto da mala , há mais de 50 anos, bastante coragem e a incerteza de sobrevivência. Não tendo onde morar, se instalou em um lugar bom, deserto mas com jeitinho caseiro. Um morro onde a modernidade havia esquecido. Uma pequena roça, simples, que de tão íntima apelidaram Rocinha. Uma menina q tratavam com carinho, que deslumbrava com suas cachoeiras e a praia toda a seus pés. Uma menina que foi sendo esquecida, maltratada. Fumou, cheirou, se tornou violenta. Cresceu, se perdeu nos próprios demônios. Se tornou de todos, de tantos. Uma babel construída para se chegar a nada.
Dona Olga veria essa menina morrer violenta e duplamente. Não perceberia.

Aos poucos o silencio do interior do morro da lugar a pulsante despertar da cidade. As curvas do beco vão dando em lugares cada vez maiores e arejados. A vala que a acompanha se torna escassa, filete quase limpo de água. O cheiro é bom, de fumaça e de mar. Sem perceber, Dona Olga abandona as casas de alvenaria, ruborizadas pelo sol incidente. Vai pensando, na vida, nos sete filhos, no neto que está para se formar e na filha que perdeu. Com a mesma desenvoltura cumprimenta um policial militar, que não responde ao aceno, olhando-a de cima a baixo. Alguns rojões de fogos de artificio saúdam a chegada do inimigo. Voam luzes diante da cabeça de Dona Olga e de 200 mil habitantes da Rocinha, diminuídos frente a imponência do que é chamada a maior favela da América Latina.

- Cheguei, Madame.

É empregada da casa há quase 20 anos. Prepara o café, acorda as crianças, brinca com o patrão. Espera sua hora de ficar sozinha. Arruma tudo, cozinha, com uma rapidez que nega seus 65 anos de idade e vê a sua novelinha. No fim da tarde volta para Rocinha. Escolhe um caminho que não faz normalmente. Vê, um pouco acima na ladeira, sua filha Solange, ex-traficante, morta com tiros de fuzis, jogada a jacarés criados no morro, andando, sorrindo. Se aproxima rapidamente, torna uma esquina, corta caminho em outro beco e toca a moça.

O engano só se dissipou de sua cabeça quando chega em casa e cozinha para a família. Dona Olga não sabe muito da vida das outras milhares de mães que ficaram sem desamparadas nos últimos 20 anos de guerra entre policiais e traficantes no morro. Olhando os netos na porta de casa, lembrava de sua outra filha, a mais velha, brincando pela Rocinha cheia de mato, subindo em jaqueiras e laranjeiras, chegando molhada de cachoeira e mar. Não temia que usasse drogas, não havia tantas. Nada de ruim era tanto como hoje

- Essas crianças , tudo cheira! Tudo fica grávida!

A ordem é para todos se recolherem no cair da noite. A ameaça de invasão de um outro traficante deixa os locais com um misto de ódio impensado e excitação. A polícia está escondida, os "vermes" podem aproveitar a batalha entre os bandidos para tomarem o poder no morro. Dona Olga não conhecia o ambulante morto com uma bala perdida. Saiu em todos os jornais. A Rocinha é sempre notícia, é tão grande, tão falada, dá orgulho, tão bom de se viver. E no labirinto das ladeiras, confunde suas próprias emoções.

- Olha, tia, a Pérola Negra – dizia, orgulhoso, um traficante exibindo o fuzil atravessado no ombro.

Solange era negra, linda. No meio da bandidagem se destacava, era esperta, ousada, encantava. O corpo bem torneado e o rosto fino não afinavam com a violência, a brutalidade e o perigo que rondavam sua vida. Era uma pedra preciosa no valão.

Dona Olga desligou a tevê, lavou a louça e foi para cama. Antes de apagar a luz, lembrou do traficante, amigo de sua filha morta.

- Olha, tia, a Pérola Negra.

Não lembrou de Solange. Virou o rosto para o lado da parede, suspirou o cansaço de um dia e achou graça.




quinta-feira, setembro 15, 2005

Diálogos de Rivaldo

Na Praia.

(Recepção calorosa).

- Seu Rivaldo, que surpresa! Não sabia que o senhor gostava de tomar sol.
- Pra você vê dona Mariana. Como as pessoas não sabem de nada...
- Puxa, Seu Rivaldo, só fiz um comentário.
- Desnecessário, imprudente e bem digno da sua pessoa.
- Como assim da minha pessoa?
- Pessoa que não sabe de nada.
- Fique o senhor sabendo que eu sei mais que você pelo menos, seu porteiro ignorante!
- Viu? Tá provado.
- Provado o quê?
- Não sou porteiro, sou vigia de bunda. Não sou ignorante, finjo que não entendo pra chegar mais perto e ficar olhando peitos, inclusive os seus.
- Que absurdo, seu Rivaldo, vou ter que te denunciar pra síndica.
- Tô comendo a síndica, não adianta.
- Meu Deus, onde é que esse mundo vai parar?!?

(Com cara de safado)

- No colinho do papai, benzinho, no colinho do papai.

(Mariana foge com cara de assustada).

Definições

Madrugada é quando todos os homens

E as coisas que vêm dos homens

Não se movem.

Como uma foto impossível de nós mesmos.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Suicídio



A primeira coisa que aprendi com a tristeza

Foi conversar com uma mulher mais triste que eu.

Foi ver que a solidão é sempre uma companhia promíscua

Foi perceber que os sentidos não têm sentido de ser


Depois fui dar com o desespero

Em forma, jeito e ocasião de silêncio

E vi que calar independe da voz

E vi que minha vida independe de mim


Mais tarde ainda acendi o espelho

Ceguei-me aos poucos

Parti-me em muitas, me fundi com o sono.


Resolvi esquecer que desde o início

Somos feitos de caos.

Que somos a perfeição do caos.

Diálogos de Rivaldo


FUTUM

(No elevador)

- Dona Serena, bom dia.
- Bom dia, Seu Rivaldo.

Silêncio.

- Soltei um peido.
- É mesmo, Seu Rivaldo? Por que me falou isso?
- Porque não falar? Sempre solto um peido quando entra alguém no elevador. É mais sincero avisar a pessoa.

Constrangimento.

- Graças a Deus não fede.
- É porque sou limpinho. Alem disso me alimento bem.

Silêncio.

- Ao contrário da senhora, não?
- Por que? Está fedendo?

Desaprovação de Rivaldo.

terça-feira, setembro 13, 2005

Buceta perdida



Quando a perdi, por babaquice minha. Tinha que sossegar a xoxota, mas não, deixei a cabeça q naum tenho falar por mim.


Isso era para ser um poema.
Desapareceu de se tornar. Virou confissão, desabafo incondicional, lágrima.
Agora, tarde demais, virou alma.
Seria uma medida pra compreender o quanto a amo
Virou tanta coisa
Que nem tanta coisa que esqueci de dizer
E risos que escondi
E beijos que não dei
E cada amor que nasceu sem saber
Nasceu, sem saber, de vc.
Isso era pra ser métrico, perfeito, transparente.
Virou isso, carregado de mim
De toda a imperfeição que a inerência do homem dá
Uma irresponsabilidade dos deuses é o que somos
E o que somos é muito mais do que existimos.

Isso era pra ser silêncio.
Amor é o que se inventa pro inexplicável
Para o infindo
Amor é você
E nós dois
Isso era pra ser espelho
Mostrando tudo que sinto, imagino e, sinceramente, amo.
Mas concorro com as palavras, com minhas lembranças suas
E com a tristeza.
Isso era pra ser um beijo, um grito, uma declaração vívida
Uma paisagem linda, um carinho
Virou testamento antecipado do amor que ainda vive.
Virou pedido de desculpas por fraqueza
Por amor demais, por não saber falar.
Por querer contar cada olhar seu
Por querer pintar as cores dos seus risos
Por querer dar a você tudo o que ainda existo
Por querer ser uma
E ser só e fraca o bastante
Para ser de tudo, ao mesmo tempo.
E de tanto tempo o deserto vai se criando
Sem se ver.
Isso era para ser a mais simples e incontestável
Declaração de amor.
Virou surpresa: não sei falar de amor sem você.

quinta-feira, setembro 08, 2005

O INSTANTE EM QUE ELA BRIGOU COMIGO

Letra de música, de nada, de sacanagem, é de quem pegar primeiro...

Deu um tempo.
E daquele tempo
Tirou um violão, um livro, um gato mal encarado,
Uma dor no peito, dois gritos,
E alguma vontade secreta.
Daquele tempo
Encurtou o tempo
Mais que um passo de fuga.
Nem fugiu, nem andou.
Ficou entre o futuro e a fuga.
Nem em si era mais.
Nem seria ou foi.
Deu um tempo
Que era o mesmo.
Então torceu o nariz para que coubesse
No tempo que deu.
Ficou de pé-só
Meio de lado
E fez cara feia com a barriga
Para que o ar fosse daquele tempo só.
Viu que o tempo passou
Mesmo quando foi dado como aquele tempo
Porque mesmo quando não passa, passa.
Deu mais um tempo
E chorou.

Criação da Bucetilda

Mais uma da série auto-retrato...sem correção, quem quiser que leia esse caralho...

Há muito tempo escrevo em partes. É como se colocasse as sílabas em gavetas, num quarto distante, e as impressões me pautam e eu não pautasse as emoções. Escrevo sobre um mendigo, uma filha morta, um homem ausente de si mesmo desesperado e em busca de si na própria ausência; a alternativa viável. Coloco no papel, na madeira, no ar, no meio do trânsito, na boca de outra pessoa que me fala a minha própria voz, menos em mim.

É porque eu conto histórias pra um adulto. E adulto não imagina, não cria, não se impressiona, não tem coragem. Adulto é um menino no medo, um menino que é pai, que não escuta o que diz. Esse homem pula páginas, muda o vilão, o mocinho, troca de livro e se ajoelha ao pé da própria cama, não apaga a luz e inventa que dorme, descansa.

E quando saio à rua tropeço em pedaços de vida. Ou imaginações sobre a vida. Cruzo com quem era, com quem gostaria de ser. Se traço o mesmo caminho, vez em quando dou de cara com dois destinos inventados brincando. Se os pensei despreocupados, ao jogar pra trás, expulsá-los de mim, obriguei-os a crescerem, se criarem e nem se aceno de longe ou rio exageradamente de suas peripécias dão-se ao mínimo de me reconhecer. Vou vendo que o que eu sou é muito menos do que existo.

- Me dá aqui esse peito!
- Dou não, nêgo.

Corri pra mulher feito diabo foge da cruz. Mas fugi pro lado contrário; fui. E naquele momento, que não foi de experimentação sexual, não fui num casebre no interior, não foi na Lapa, na década devinte, driblando ladrões, bêbados e os fantasmas. Naquele momento me reparti feito doido. Ela bateu pra cá, pra lá, não quis nada mas não saía da minha cara de cão. Parece q naquela balbúrdia corporal teve calma de sobra e me aceitou, por pena, vaidade, vai se saber o que se passa nessa hora.

Não foi em lugar nenhum, foi aqui, na cachola, onde tudo cresce, surge. De vez em quando vão embora, nunca voltam, batem na casa quando não espero, não deixo entrar, fazem vigília, chamam os outros, passeatas, protocolos, uma quizumba que zune os ouvidos, elegem presidente, aceitam ser governados, fazem guerra, brigas de poder, leis, tomam posse, criam gado e hortelã. Já nem lembram mais porque estão lá. Fico trancado, pago a eles pelo pão, pelo conserto da geladeira, pra vigiarem meu jardim e quando vejo não sou eu quem me navego. Dependo deles e eles se esquecem de como nasceram. Nada devem.

Vez em quando vem um com cara de triste, sei que é safado, mas também não sou nenhum troglodita, me pega numa sensibilidade que dá dó. Sou seduzido e quando vejo tô sem cama, costas dóem, sofá nunca mais, tô sem amor e sem cachorro. Me junto aos dos protestos, como da mesma canjica, fico inflamado, falo alto, reclamo minha própria criação. Sou mais poderoso porque falo de mim pra mim mesmo. Vem chegando gente, daqueles que se foram, mais passeatas, mais protocolos, me torno presidente, tombo a casa, fecho escolas, deliro como um general e sua bala de prata, vou falindo hospital por hospital, fome, peste, mortes e mortes. Ninguém se atreve a nascer nem a ficar. Assim construo uma casa, sozinho, na cidade vazia.

Arranjo um amor e um outro cachorro.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Homem na merda

Se texto precisa de revisão eu tô fudida. isso foi uma merda não-revisada que escrevi. faz parte de um conto q vou mandando aos poucos pra esse "blerg". a visão feminina e crua de um maluco aí com tesãozinho, com uma mulher por obrigação, por controle. sempre o controle.


I

Saberia nas próximas horas o que saber? Olharia a si do mesmo jeito e na mesma relação de estranhamento?
Havia poucos minutos estava na casa dela. Tinham ido ao cinema, comido qualquer coisa. Sem mais nada a dizer após três meses de apresentações, resolveram falar verdadeiramente de si. Foi então travada uma batalha antes de um diálogo, uma catarse, antes de lembrança. Se fizeram as primeiras e agudas críticas.

Já no carro dela, resolveram olhar o caminho a frente, os sinais, os pedestres, as próprias mãos. Não nasceram um para o outro.

Despediram-se, na casa dela, com um beijo. Procuraram o rosto, de raiva, desafio ou desconfiança, mas a força do hábito e a paixão por hábito remanescente, impulsionaram-lhes as bocas à frente.

Mal esquecia o copo d’água no filtro, o telefone lhe diz que está com saudades e que irá ver a irmã. Chegará um pouco tarde, mas mesmo assim ligará. Liga pra dizer que chegou bem, o bairro da sua irmã é perigoso. Perigosos são os homens que falam o que aprendem, uma combinação infinita de palavras e sentidos que filtram na alma, antes duma barreira à liberdade. Em três minutos, as promessas de mágoas e despedidas se arrojaram num turbilhão de sentimentos tão mais anêmicos como o carinho e a compreensão.

Por medo disse a si que a amava. Vá lá se saber o que o medo tem a ver com amor. Quando o homem entrega-se a algo, vira esse algo. Nunca se viu um que virasse amor. E então nasceremos para evitar, esperar, desconfiar, assegurar e verbalizar. Para não sair o ato por aí a corroer as vidas.

Na lógica do tempo foi deitando. Acendeu as luzes, teve medo das coisas, apagou as luzes, teve mais medo ainda das coisas quando não as via. Resolveu esquecer de ter medo e saiu.
Deixou a porta meio aberta, a luz da entrada acesa e virou como se a casa lhe espiasse. Considerava pouco sua, mais dela mesmo a casa seria.

Assim como as coisas em sua vida. Mais da vida tudo seria. A profissão era ela mesmo que exercia. Ficara famoso por obras que não precisaram dele para nascer e nem a ele consultaram quando foram amadurecendo.

Tornava-se um refém da vida.

Era como as palavras que se cospem da boca em fuga. São vinganças do significado que lhe cabem. Sou uma cadeira, nada mais posso ser. Um pente, um escaravelho, ladainha, porra, nada, tudo, sou um verbo e não ajo. Vingativo consigo mesmo Ele era como um verbo-palavra, cuspido dos próprios passos.

Não quis pegar o carro se carro tivesse. Se estivesse com raiva, raiva teria e foi se farsando até chegar numa ruela, como toda, escura, vadia, suspeita e ponto final de sentimentos confusos. Como se todo caos fosse dar em um pequeno espaço, onde perderia espaço para ser caos. Somos homens grandes, nossa alma não se mede.

Quando viu era um homem rude, bêbado. Soerguia a puta aos gritos e dela foi se renascendo. Dela viu-se um misto de pavor e ganância, cansaço e nojo, sem o cheiro do início do dia, sem os sonhos do início do dia e do momento que entrou como um homem distinto, leve.
Mulheres sempre amaram seu sujeito melancólico e desesperançado. Olhava a meio-olhar e sempre se detinha em um ponto inesperado dos corpos delas. Ria com os olhos e voltava a se consolar de tudo. Era batata.

Pedira uma água, com gelo e limão. Pediu licença para sentar, licença para falar. A puta se elegantou com os galanteios escondidos. Por muitos minutos se sentiu desejada, conquistada, cara.

Pedira um uísque, sem mais nem menos. Vai se saber o que se dá nessa hora.

domingo, setembro 04, 2005

Choro da Puta


Hoje deu vontade de chorar
Porque nao sei cantar
Hoje deu vontade de chorar
Porque nao sei o que quero da vida e o que ela quer de mim
Porque nao faço nada de bom pra ninguem
Porque nao sei me divertir sozinha
Porque o tempo passa como um filho malcriado
Porque nao durmo o suficiente nem o bastante
Porque tenho que trabalhar
Amanha ou em qualquer vida
Porque preciso de dinheiro
Porque preciso de um lar
Porque preciso de um corpo
E o meu corpo nunca quer ser meu

Hoje deu vontade de chorar
Porque sou impotente
Porque sou burra
Porque nao sou Joao Bosco
Porque o mundo ta cheio de gente
Porque me perco na hora das respostas
Porque nada do que quero esta a mao
Nem a vista
Porque desejo em silencio
Porque preciso falar

Hoje deu vontade de chorar
Mas eu nao chorei nao
Fui fazer um samba de cabeça
Dormi nas ruas do Estacio
E rasguei minha camisola
Pra me libertar