quinta-feira, agosto 03, 2006

A revolução do bicho

Outro dia veio um
E disse que sofrimento
É pra quem quer

Que é coisa de mulher

- Mulher, bicho fraco!
- Mulher, bicho estranho!

Aí um outro ouviu
E gritou mais em seus pulmões
Que chorar só gasta o rosto

- Mulher, bicho fraco!
- Mulher, bicho estranho!

Quem não se contentou
Foi um outro
Que disse ter abandonado tantas
Quanto lhe podia contar as horas vividas

- Mulher, bicho usável!
- Mulher, bicho nosso!

Então a multidão
Contava histórias
De tristeza , sorrindo a desgraça
Feminina

- Mulher, bicho feio!
- Mulher, bicho preso!

Em uníssono cantaram
E beberam
E fuderam uns aos outros
Porque de nada mais precisavam
Porque o homem nada mais precisa
Do que a si mesmo
E esqueceram a expiação
A culpa
E se sentiram livres
E pegaram viola
E açoitaram um cão
E penduraram as camisas
E dormiram em valsa
Roncaram as almas
E anoiteceran um silencioso sermão

- Mulher, quem é bicho?
- Que bicho , mulher-bicho?

Sonharam sem sentido
E acordaram sem saber
E viram um bicho estranho
correr no peito de cada um

Tinha um cheiro bom
Um hálito calmo
E a viram chorando
Coisa que nunca viram
E viram que a dor dói mesmo
E que não passa nunca, mesmo quando passa
E que o mundo melhor é o que poderia ter sido
E que o bicho é estranho mesmo sendo humano
Mesmo sendo amor
Mesmo na saudade
E enfim no desapego

- Mulher, bicho homem!
- Nem bicho tem sossego!