quarta-feira, maio 31, 2006

Lista de Final do dia


Zumbi, Gandhi, Che Guevara, Madre Tereza. Odeio listas. Adoro listas. Tentei organizar o pensamento para definir quais seriam as maiores personalidades da história pra mim. Não queria artistas, gênios da ciência, nem mulheres gostosas. Não valia meu pai nem minha mãe. Nem meu finado cachorro Thor, com o qual aprendi muita coisa. Parece besteira, coisa de mulherzinha, mas cão ensina. É só saber latir igual a ele.

Almirante Negro, Robin Hood, Jesus Cristo, Mandela. Tinha que ser gente que abdicou das vontades pessoais para algo coletivo. Aquela galera que acordava cedo, no frio e gritava um "filho da puta! tá cedo pracaralho, puta q ô pariu. mas vamos lá, não tem jeito". Que tratava a inevitabilidade da luta com a complascência de quem reclama ,de sacanagem, só por não acreditar na própria grandeza.

Mv Bill, Zilda Arns, meus pais (droga!). Aqueles cansados , mas que puxavam ar de algum lugar. Aqueles com fome, mas que preferiam repartir. Aqueles que poderiam beber um drink bom numa praia foda, mas que ralavam o pé em buracos e estradelas do cú do Judas.

E tinham que ter mobilizado muita gente. Criado seguidores, repetidores da bondade, da igualdade e da abnegação. Aqueles que pensavam , mesmo não conhecendo, na Laranja Mecânica. Todo mundo correndo pra que ninguém corra tanto assim. Aqueles que no momento crítico, continuavam. Nos conselhos da mamãe de se agasalhar, corriam na chuva, debaixo das porradas de policiais, soldados, povo, o carrasco que fosse.

Tinham que ter tido coragem. Insanidade. Arte. Engenho. Pica Grossa.

José, João, Elisa. Tinham que ter acordado todo dia pra ralar horas e horas. Tinham que ter sido gente. A gente. Tinham que ter sofrido calado pra não desequilibrar a estrutura social. E , com fome, descansar no peito cinco filhos famintos. E , na própria ignorância, saber continuar vivos. Tinham que ter compreendido no amor, a putaria da vingança. Tinham que ter enxergado os pés no escuro dos becos. Tinham que ter visto a própria casa baleada várias vezes e continuar pintando a parede. sua ou dos outros. Tinham que não ter tido nada e ajudado o outro a continuar tendo tudo. Tinham que ser comuns, pouco charmosos. Na verdade uns tiozões barrigudos e fedorentos. Mas muito honestos e respeitadores. Tinham que se emocionar com músicas ruins e cantar nos videokês se sentindo o alguém que realmente eram.

Tinham que ter seguido as instruções das grandes personalidades da humanidade , vivendo-a, mesmo na mais completa e injusta adversidade. Tinha que modificá-la, errá-la, pulsá-la no cotidiano. Tinham que percorrer o que aquela galera percorreu, só que por mais de setenta anos e por mais de cinco gerações. Tinham que ter sido heróis, fora de qualquer lista imbecil de um intelectualóide qualquer que acha que sabe da vida.

Tinham que ter validado todos os critérios da tolerância possível, preenchido os formulários do INSS e segurado a vontade de chorar no trem, quando percebidos como nada nem ninguém pelos outros e por si mesmos.

sábado, maio 06, 2006

Uma vez Branco, outra vez Negro

Eu pensei
Que o negro era negro a todo branco
E lutei
Pra que o branco visse negro o que era negro
Mas cansei
Porque branco só vê branco onde é negro
E vê negro, mesmo branco, quando nada há de negro.

Eu chorei
Feito negro, todo branco, ao ver branco.
E vi branco,
Todo negro, mas o negro não viu branco.

E era negro e era branco
E eram brancos a ver negro
E eu fui branco, mesmo negro,
Todo negro e Todo branco

Quem fala negro, fala branco
E todo branco quer ser negro
E todo negro vai ser branco
Mesmo que o negro seja negro
Mesmo que o branco seja branco
Mesmo assim há que saber então
O negro e o branco
O branco e o negro
Negro e Branco
Branco e Negro
São.