quinta-feira, janeiro 12, 2006

Samba

O samba é da periferia. A periferia pode estar no centro. Pode estar no alto. Pode estar aqui. Não nasceu do desejo de liberdade, mas da liberdade adquirida. Veio como um evangelho (que no sentido original significa "boas novas") , uma carta cantada para parentes distantes, jogadas as mensagens nas estrelas pra dar em alguma África, ou para filhos futuros amarem o fato de ser livres. Foi cultivado no meio dos rituais da escravidão, aprendeu com o batuque dos orixás, ainda grilhados , vindos da Baixada Fluminense, com cheiro de café. Misturou a terra com o cimento, asfalto e fumaça. Antes de tudo, com os próprios sentimentos, alforriados para serem próprios. Nasceu de uma evolução, do próximo passo, e da condição, primeira do homem, de viver e ser feliz vivendo.

O samba é do homem. Está jogado no espaço. Os filhos futuros somos nós, seremos nós. Não é mais do morro, embora ainda seja embalado pela mãe. Não é mais escravo, por mais que ainda queiram. Sua grandeza não deixa, sua riqueza não deixa, sua rapidez não deixa.
Falem do samba, sem falar da pobreza. "Sem melodia ou palavras para não perder o valor". Pintem-no, sem pintá-lo de preto. Cantem o samba sem fingir que sabem. Saibam. Antes de tudo , ele é conhecimento. Ensina eternidade. Não é o que vocês pensam que ele seja.

Se não entenderem o que é isso, não verão que o segredo é ser feliz. Porque uma hora ele vem. Tristez tem fim. A alegria , eterna, é que é o "seu habitat natural".