quarta-feira, janeiro 25, 2006

O Homem Pifa

São 15:12. Estou no trabalho. Bandido. Assaltante das horas, destinadas a mim para acabar com elas. Transformá-las em coisas, ações, consequências, idéias, teorias, achados, marcas, palavras, convencimentos, aparência. Aparentemente todos estão calmos. São 14 pessoas num espaço de mais ou menos 50 metrosquadrados. Se ocupam talvez. Estou aqui forçado. Hoje de manhã, lá por aquelas horas de tranquilidade, quando surpreendentemente acordei cedo, disse rm voz alta que trabalho é perda de tempo. Falei com sono, intuitivo. E como viver é estar distraído, sobrevivi a frase em mim mesmo. O futuro seria uma incrível e entediada perda de tempo.

Então escolhi a vingança e, secretamente, levantei-me contra isso. Estou, em plena hora de atividade, semi-morto, fazendo o único e mortal esforço de coordenar os dedos de forma caótica para que a coisa a minha frente faça algum sentido. Mas há um desafio. Entendem o desafio?

O texto não pode, em nenhuma instância, de jeito nenhum, demonstrar qualquer tipo de movimento. Tenho que fazer com que vocês imaginem um homem bobo, de óculos, suando, cabelos perfeitamente penteados, de camisa social branca, gravata preto de listras diagonais bege claro e vermelha, mascando um chiclete velho, fraco, feio e desinteressante com o olhar perdido no ventilador de teto, com o olhar fixo nos peitos da secretária loira e incalcançável, com o olhar compenetrado no computador que não diz nada e com a cabeça lá fora, tão externa que pensa a pessoa que ele nunca será. Tudo isso num mais profundo e aterrador silêncio. Mais que isso, na mais completa e adjetivada imobilidade.

São 15:25. Sou mulher. Tudo que me envolve tem uma dinâmica sexual que incomoda. Acaba a paz. Vem um e me beija por trás. Quer fazer charme, aproveitar qualquer brecha. Quer me comer. Tenho nojo, dou uma cortada, volto a ter pau.

E pifo. Perdermos muito tempo por nada.