sexta-feira, março 03, 2006

Música Clássica

Gosto de música clássica. Ainda mais quando não tenho muito o que fazer. Sempre penso que é perfeita porque compoe um cenário, uma vontade. Se estou com sono ela me nana, se tô puto, ela me enfurece, vêm aqueles violinos e mandam ver. Melhor que guitarra. Levanto do sofá, coço o saco. Sempre coço o saco. Vou na geladeira e fico na frente dela o tempo suficiente para sentir frio. Pego uma maçã. Não, maçã prende. Faço um guaraná. Pego um biscoito na dispensa. Ligo a televisão pra rivalizar com a música clássica. Assim penso melhor. Abro o jornal e vejo o nome dela. É verdade, escreve muito bem. Todos aplaudem, menos ela. Já era de se esperar. Conhecida pela rabugentice. Pensava até que poderia ser falta de homem. Mas vejo que é uma senhora bonita, elegante e até jeitosinha. Pro meu tio mais velho. Nada de se jogar fora. Não tenho muitos motivos para matá-la. Sempre foi honesta e coerente em suas críticas teatrais. Não gosta de aparecer muito e me parece, apesar do texto feroz, uma boa pessoa. No entanto, preciso ter estratégia. E minha estratégia é causar medo nessa eltizinha intelectual que não serve pra nada. Criticas de teatro não servem pra muita coisa. E ela é famosa, muitos desejariam acabar com sua vida. Forma ingênua de dizer e expor o ódio que o ego sente quando é contrariado. Muitos do que ainda matarei se sentirão aliviados. Artista é foda. Mas o medo vem, mesmo com a mais recôndita satisfação. Ele vem na frente. Vê que não foi a megera quem morreu e sim que um conhecido editor de cultura o fez antes dela. E sim, poderei ser o próximo. É o ínicio da neurose. Um serial-killer à solta. Ouvi dizer que se tratam de homens inteligentes, geralmente bem relacionados, e que acharm estar certos em suas decisões. Minha diferença em relação a eles é que sei a medida exata da minha loucura. Acho muito doido tudo isso. Além disso não tenho muito prazer. É ódio mesmo. Penso, medito, planejo, mas no fundo sou movido pela raiva. Aos poucos verão que só quem merece é que cai. Quem matará essa mulher, serão as próprias pessoas que desejo matar.