quarta-feira, abril 18, 2007

Tia Lúcia

Minha Tia Lúcia
Tinha cheiro de cruzes
E um riso ousado lá no canto da testa

Parecia magra
Parecia linda
E um tanto chata

Mas minha Tia era escondida
Na penugem soberba
Na maquiagem intensa
Na habilidade com as cartas

Ainda lembro de seus beijos frios
De suas mãos ainda mais
Do grito esgarniçado que sarapiava
Ao lembrar-se de algo

Tia Lúcia era Portela
E cismou um dia tocar cavaquinho
Me ensinou a ver luzes entre os dedos
Das pessoas
Me ensinou que chorando o mundo cresce
Que o abraço rompe a pele
Parecia eterna
Parecia duas
Parecia ela

Minha,
tinha sonhos de moça
E me fez comer bolos solados
Num espaço da tarde
Quando todos morriam ao tempo
Sem se preocupar com a morte

Foi ela que me batizou
Foi a alma que mais me vou

Ao bafo de cerveja e paz
Fui o filho que teve mais