Eu queria ter feito. Eu queria ser a Ângela. Com seu riso embuchechado. Linda, triste e jovem. Eu queria ser essa dúvida entre a autobiografia e a arte. Entre o desespero da arte e o desespero da vida. Eu queria ser aquela hora da lágrima, do acorde. Seguido do silêncio. Em que a poesia nem a música importam mais.
Balada da Arrasada (Ângela Rô Rô) - 1979
Entregou-se sem um zelo ao apelo de sorrir
Ofertou-se inteira e dócil a um fácil seduzir
Sem saber que o destino diz verdades ao mentir
Doce ilusão do amor
Arrasada, acabada, maltratada, torturada
Desprezada, liqüidada, sem estrada pra fugir
Tenho pena da pequena que no amor foi se iludir
Tadinha dela
Hoje vive biritada sem ter nem onde cair
Do Acapulco à calçada ou em frente do Samir
Ela busca toda noite algo pra se divertir
Mas não encontra não
Desespera dessa espera por alguém pra lhe ouvir
Sente um frio na costela e uma ânsia de sumir
Transa modelito forte, comprimidos pra dormir
E não acorda mais